29 agosto 2016

[PAPO DE MÃE] AMAMENTAÇÃO 1

Antes de começar a escrever, quero deixar claro para você, leitor querido, que esse texto é totalmente baseado na minha vivência como mãe. E, com isso esclarecido, quero contar que nem sempre ser mãe é um paraíso. Ter um filho é, sim, divino. E amamentar é, com certeza, um ato de amor, se você considerar que está fazendo isso por amor, e não porque a nossa digníssima - e hipócrita - sociedade te impõe.

Amamentação é um assunto muito polêmico e eu realmente não entendo o por quê. Até hoje me pergunto porque razão, motivo ou circunstância de nenhuma amiga que já havia parido e amamentado, ter abordado o assunto comigo. Claro que eu também não questionei, afinal, eu - como tantas mães de primeira viagem iludidas - achei que seria lindo como nos vídeos que vi no YouTube ou como acontece nas novelas e livros. O bebê ia nascer, meu corpo ia produzir leite, o bebê ia pegar o peito e mamar naturalmente. Sim, nada como a vivência de uma experiência para nos deixar com os pés mais fincados na realidade.

Amamentar é questão de escolha, de dedicação e de comprometimento talvez mais do que de amor. Eu, por exemplo, não amo amamentar. Dou o peito para Malu porque ela necessita dele de uma forma que chega a ser ridícula! Eu me sinto sufocada, escravizada e completamente dependente da minha filha. Mas não dependente no sentido bom, é uma dependência péssima. Imagina você dormir toda torta e acordar toda quebrada simplesmente porque sua filha não largou o bico do seu peito a noite inteira. E que fique claro aqui, quando digo a noite inteira eu realmente quero dizer a noite inteira. Não é uma expressão.


Minha experiência com a amamentação não é boa. Quando comecei não tinha bico, resolvi usar aqueles bicos de silicone que vendem nas farmácias, o que ajudou a Malu na hora de comer, entretanto como a sucção era forte, o silicone acabou machucando meu bico, e com isso (e uma orientação errada de uma profissional da área da saúde) eu adquiri uma mastite braba!

Deixe-me explicar a má orientação: essa coisa de dar o peito direito e na próxima mamada dar o esquerdo é furada! O ideal é dar o peito até ele esvaziar. E se o bebê não fizer isso em uma mamada, cabe a mãe esvaziar com bomba ou manualmente. Por que, Jéssica? Bem, amigo, porque o leite pode empedrar e você não tem uma mínima noção do problema que isso trás.

Voltando ao assunto anterior, eu adquiri uma mastite no seio esquerdo, que por sinal, era o seio que o bico tinha uma rachadura. Chorava e gritava de dor a cada vez que a Malu tinha que mamar, e a cereja do bolo foi a quantidade de leite desperdiçado enquanto eu ordenhava a mama. Isso foi pior do que ouvir que meu leite era fraco! Nada me preparou pra dor e pra decepção que foi o primeiro mês amamentando.

Eu não desisti. Até oração à Deus eu fiz pedindo pra que Ele me permitisse amamentar minha filha até os 6 meses ao menos, afinal, todos sabemos os benefícios do leite materno. E eu tinha muito medo de perder essa conexão que a amamentação cria entre criador e criatura, por assim dizer. Com o tempo o leite ajudou meu mamilo a cicatrizar e a amamentação foi se tornando mais confortável.
Não, você não leu errado. Passar o leite na auréola e mamilo ajuda tanto a cicatrizar quanto a estimular o bebe a mamar. Eu fazia tanto antes da Malu mamar, quanto depois que ela terminava a refeição.

Até a Malu completar 1 ano foi muito tranquila a amamentação. Ela dormia no peito, porém eu trocava e colocava a chupeta, e então eu era livre. Podia limpar a casa, tomar banho, ver um filme, podia me sentir menos mãe e mais mulher.
Infelizmente hoje, Malu com quase 2 anos, a amamentação se tornou um peso enorme nas minhas costas. Hoje em dia, na verdade, me sinto até confusa com relação a amamentação. Me sinto aliviada quando ela fica doente, porém quando ela fica de birra e não quer comer e fica pedindo peito me deixa irritada.

Tem vários estudos que comprovam os benefícios da amamentação, tanto para a mãe que amamenta, quanto para o bebê que consome. Um estudo publicado no American Journal of Obstetrics & Gynecology revelou a primeira evidência que o tempo acumulado amamentando pode influenciar na saúde cardio-vascular a longo prazo, reduzindo as chaces de infarte a até 37%. Uma das teorias é que a liberação de ocitocina causa o efeito anti-estresse. O aleitamento materno também contribui para que a mamãe recupere seu perfil metabólico pré-gestacional.

Eu às vezes acho que sou a ovelha negra não só da família, mas do mundo. Eu não emagreci amamentando, e só voltei ao meu corpo pré-Malu recentemente, e ainda não estou na minha melhor forma. E, cara, eu dou de mamar umas 10 horas por dia, sem exagero! E eu ando cada vez mais estressada e frustrada! E, não sei se alguém aí amamenta, mas ao mesmo tempo que é uma conexão linda é um porre!

A amamentação tem que ser uma via de mão dupla. Tem que ser prazerosa para ambas as partes. E não é fácil. A maternidade em si não é simples. E na nossa atual sociedade hipócrita fica ainda mais difícil fazer e aceitar algumas coisas.
Tem mães que não produzem leite, tem mães que o leite seca por algum trauma ou estresse, tem mães que não tem o apoio de ninguém e por isso a produção de leite não é prioridade. E as pessoas a nossa volta não ajudam. Muitas vezes, atrapalham.

O leite materno é produzido de acordo com a demanda. Quanto mais o bebê mama, mais leite a mãe produz. Então se seu bebê não mama muito, sua produção pode ser pequena. Mas como qualquer regra existem exceções. Meu leite sempre foi de acordo com a Malu, eu é que não sabia administrar.

De qualquer forma amamentar é uma benção quando a mãe sente prazer nisso. Jéssica, aonde você está querendo chegar com esse texto gigantesco? Bem, meu caro Watson, quero chegar ao ponto em que amamentar seja uma opção e não uma obrigatoriedade. Onde a mãe tenha toda uma assistência caso queira amamentar em livre demanda, assim como ter o apoio quando não quer amamentar (ou quando não pode).

Dá pra perceber que muitas mulheres se sentem vitimizadas por não conseguir amamentar. Mas amamentar não é realmente fácil. Horários, coluna, a pega certa, tudo isso conta. Eu não julgo a mãe que não quer, ou não pode, ou simplesmente não consegue amamentar. Eu só não desisti porque tive apoio.

E por falar em apoio, papais queridos do meu coração, ajudem as mamães. Vocês não tem noção de como somos cobradas perante a sociedade! Ser pai é maravilhoso! Deve ser a sensação mais indescritível na vida de um homem. Realmente aplaudo de pé àqueles homens que se dedicam a paternidade e que além de dar educação e amor também zelam pelos filhos. É realmente raro isso.
Ser pai é além de tudo contribuir para o bem estar daquele serzinho que você ajudou a produzir. E isso quer dizer - também - dar banho mesmo quando chegar cansado do trabalho, afinal as mães que trabalham fazem isso também não é mesmo? É dar comida, colocar pra arrotar, zelar o sono. E eu digo isso porque nós, mães (principalmente as que não tem empregada ou ajuda em casa) somos completamente solitárias. Vou falar por mim, eu tenho ajuda e já me sinto morta. Me sinto sufocada. Me sinto uma verdadeira merda bosta de mulher. E digo isso sinceramente, porque você quer fazer de tudo e simplesmente não consegue. É frustrante!

Não está entendendo? Vou explicar: minha filha vai fazer 2 anos e ainda mama em livre demanda. Pois é, sou uma escrava de leite. Eu não posso sair com minhas amigas, porque a Malu precisa do peito pra dormir. Não posso ficar até mais tarde na faculdade pra tirar dúvida com os professores, porque a Malu precisa de mim pra se acalmar. Não posso ter dor de barriga, porque a Malu insiste em ficar dentro do banheiro comigo fazendo zona, mexendo onde não deve e querendo o peito. Não dá nem pra sair pra namorar com o marido, um cinema ou coisa e tal, porque ela chora querendo o "petón" dela. Estão entendendo o tamanho do sofrimento?

É claro que amamentar é legal. Tem seus momentos de prazer. Saber que estou dando à minha filha o sustendo em forma de leite e passando pra ela meus anticorpos e a segurança do colo materno me enche de orgulho! Entretanto é difícil você conciliar uma vida como mulher/esposa/amiga com a amamentação.

Espero que com esse pequeno-grande texto vocês, mulheres do meu coração, pensem bem antes de ter filho e entendam que amamentar não é uma obrigação, é uma benção. Se você não conseguir, não se sinta só. O importante é seu filho ou filha estar bem e saudável. Não se minimize por isso. E se conseguir, que você saiba ter paciência e jogo de cintura com a cria. Eles precisam de nós, e de alguma forma esse laço com o peito é o que deixa eles confortáveis e seguros.

De coração, não me entendam mal. Esse primeiro texto foi mais um desabafo de uma mãe que se sente anulada de sua própria vida em função da amamentação. E que de forma alguma eu sou contra amamentar. Sou a favor da mulher fazer o que faz bem a ela. E já sabemos que a amamentação trás muitos benefícios pra nós, seja na saúde mental quanto na física.

Não é um texto jornalistico, ou analítico. É um texto pessoal feito por mim mesma com base na minha vivência nesses 23 meses de maternidade. E se você, mulher e mãe também se sente como eu, por vezes sufocada, bem, saiba que não está sozinha e que isso não te faz uma péssima mãe ou pior que ninguém. Afinal, todo mundo precisa de um certo grau de liberdade para ser feliz.

Amamentar é natural, espontâneo e vital em algumas situações. Não é um ato só de amor, é um ato de carinho e de superação. O aleitamento materno talvez seja a parte mais difícil do começo da maternidade. É doar uma parte de si a outro ser... um ser dependente de você. E você passa amor, carinho, cumplicidade e companheirismo através do leite, também.

Quero finalizar esse primeiro papo sobre amamentação agradecendo a minha irmã Aline, que foi a primeira a me incentivar de todas as formas a amamentar, que vendo meu desespero quando a Malu chorava de fome, me acalmava e colocava a mão na massa na ajuda. Quero agradecer ao Thiago que cuidou de mim, mesmo de forma dolorosa, durante o período em que fiquei com mastite. Obrigada a todos (marido, sogra, mãe, amigos) que ficaram ao meu lado e até hoje me dão apoio nas minhas decisões.

Alguém aí já amamentou? Se já teve problemas, ou foi fácil? Quer ser mãe e tem medo de amamentar? Conta pra mim! Vamos bater um papo legal! :)

Espero não ter traumatizado ninguém! Risos.
O que acharam do primeiro post do nosso novo quadro?

Quarta-feira tem post sobre decoração e DIY! Espero vocês!

Até a próxima!
Jéssica Miguel

11 comentários:

  1. Estou aqui pro que precisar... Te apoio nas suas decisoes... E como sempre te falo... Desejo loucamente que a Malu large essa "mamica " para que eu possa te ajudar mais e ate mesmo curtir ela com mais liberdade... Se Deus quiser vamos conseguir isso BREVEMENTE.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amém! A separação pode ser traumática pros filhos, mas a amamentação está sendo traumática pra mim. Próximo filho vai conhecer a mamadeira cedo, =\

      Excluir
  2. Caramba, Jéssica.
    Preciso confessar que quando vi o título do post fiquei meio receosa por achar que nada teria a ver comigo nesse momento, massss eu tirei várias lições daqui.
    Eu sei que maternidade está longe de ser como pintam pra gente, como ocorre em filmes, novelas e revistas, mas nunca tinha parado pra ler nada sobre amamentação em si. Imagino agora que seja realmente muito desgastante, não é pra qualquer um não.
    Tudo envolvendo gravidez é tabu, parabéns pela sua coragem. Amei!!!! As pessoas precisam parar de enfeitar tudo, isso gera muita expectativa e expectativa gera muita cobrança.


    ourbravenewblog.weebly.com

    ResponderExcluir
  3. Sou muito nova para falar do assunto : Ser mãe! Porém já vi muitos relatos de mães sobre a amamentação e como é cansativo e desgante ,mas ao mesmo tempo um ato de amor,a criança precisa de você para se manter viva, também não vejo nenhum problema nas mães que desabafam assim como você de situações desagradáveis de ser "mãe" assim como em todas as fases da vida tudo tem seus prós e contras!

    ResponderExcluir
  4. Jeo, eu não sou mãe, então não posso falar sobre o assunto com propriedade, mas tenho algumas amigas que já pariram e outras grávidas, então, em meio às nossas conversas, sempre as vejo falando sobre as experiências e os receios da maternidade.
    A questão do aleitamento é realmente uma das mais complexas. Eu só mamei 2 meses e, por tal razão, sempre desejei que com meus filhos a história fosse diferente. Assim, sinto que me cobro por algo que ainda nem aconteceu, sabe? Imagina quando eu realmente estiver vivendo essa realidade! Seu texto veio como um bálsamo, pois essa cobrança de hoje é realmente surreal!
    Espero que quando chegar a minha vez eu esteja preparada para o que vier e que isso seja fruto das minhas próprias escolhas e não um fardo.
    Ótimo texto! Desejo a você o melhor, assim como para a pequena Malu!
    Um xêro.

    www.umadoseparaomeudia.com

    ResponderExcluir
  5. Olá!

    Não sou mãe e não entendo nada desse universo. Porém, queria muito poder amamentar meu filho (a), sei que sempre existe o risco de complicações, como não ter leite e etc, mas se eu puder farei isso. Pois, acho esse momento tão apaziguador, deve ser uma sensação muito boa.
    Em relação a sua baby, acho que com 2 anos a mãe já pode tirar a criança do peito, trabalhei numa creche e vi o quanto é difícil alimentar crianças que mamam.

    Beijos,
    entreoculoselivros.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. Não é pra mim, mas um artigo bem legal heuheueheuheu

    Marcelo Júnior - Mistérios Literários
    http://misteriosliterarios.com.br/

    ResponderExcluir
  7. Bom,eu não sou mãe(nãoposso nem pensar nisso,nãotenho idade) e pelo que li maternidade não seria pra mim :/ Pelo que você falou sabemos a razão para chamamos nossas mães de rainha,pois vemos que é mais difícil do que parece. Eu não vou mentir,mas achava que ser mãe era um paraíso☺iria ter um bebê para cuidar,beijar e chamar de meu,mas não é só isso .
    Eu sempre falo que todas as mães são guerreiras,vitoriosas !! Parabéns para você !!
    Beijos,meumundomeusbooks.blogspot.com

    ResponderExcluir
  8. Cassete você é uma mãe bem dedicada viu. Nãosei se eu conseguiria dar de amamentar pra minha filha até os dois anos de idade é muito comprometimento e muito amor também pela criança, eu acho. E vc tá de parabéns viu eu não conheço nenhuma mãe que conseguiu até os dois anos de amamentar pra filha. E adorei o texto achei muito bem colocado e eu também não entendo porque que é o nome da ação é um tabu tão grande nas conversas nossa sociedade.

    ResponderExcluir
  9. Não sou mãe e nem pretendo ser, mas minha mãe sempre falava que odiava amamentar, é tanto que eu e meus irmãos paramos de mamar cedo. Ainda é um Tabu esse assunto de amamentação, só não consigo entender a razão. Um texto muito bem escrito, parabéns!
    http://detudo-umtodo.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  10. Realmente, a maternidade, além de toda a sua beleza, tem também dificuldades. Lembro de uma tia que não conseguia amamentar, mesmo utilizando aqueles bombinhas, ou tentando o bico de silicone. Era um pouco ruim pra ela porque tinha aquele desejo de se ligar com o bebê pela amamentação, mas depois tudo ocorreu bem..
    https://lendodesconhecidoblog.wordpress.com/2016/09/04/resenha-sorteio-a-guerra-dos-mundos-de-h-g-wells/

    ResponderExcluir

Criado por: Mariely Abreu | Todos os direitos reservados ©. voltar ao topo